O Homem que Preparou Senna
Logo na 2ª corrida da carreira de Senna, em Kyalami, África do Sul, ele marcou o seu 1º ponto na F1.
Mas Ayrton chegou exausto ao final. A desmaiar. Cabeça caída sobre o volante. Foi tirado do cockpit e deitado no chão. Ele estava desidratado. O calor e o esforço de braço para virar o volante, foram violentos. Era bem diferente quase 2 horas num F1 potente, que meia hora num F3. Ficou aí decidido que o trabalho com Nuno Cobra ia ser incrementado. Nuno Cobra estudara o caso do tenista sueco Bjorn Borg, campeão dos courts de todo o mundo, que nunca perdia a lucidez, por maiores que fossem a tensão e o esforço. O seu ritmo cardíaco não ultrapassava 118 batimentos por minuto e, assim, o corpo e o cérebro jamais sofriam déficit de oxigénio. Quando descobriu o professor Nuno Cobra pela primeira vez, na Universidade de São Paulo, em 1983, Senna pensava ter um problema de coração. Nuno trabalha com atletas olímpicos brasileiros. Começou a “trabalhar” Ayrton pouco antes da estreia de Senna na F1, em Jacarepaguá, Brasil.
Nuno Cobra era famoso pelos resultados que tinha com atletas mas também por defender à época, que a preparação física passava também pelo crescimento mental, espiritual e emocional do atleta. Para Nuno Cobra, Senna não tinha qualquer problema de coração. Tinha apenas um sistema cardiovascular atrofiado, típico do homem moderno. O dito coração de passarinho, que bate e não leva sangue para lado algum. |
Cobra aprendeu como incorporar isso, com a força G lateral na
cabeça de um piloto ou a pressão aerodinâmica no corpo, quando roda a quase 300
Kms/h, as pernas submetidas a forças de gravidade superiores a 100 quilos,
entre muitos outros elementos que faziam à época a vida de piloto muito mais
desconfortável do que hoje, fruto do material com que os macacões e capacetes
eram feitos, aumentando o desconforto e a temperatura do corpo.
Encontrou um aliado destemido nas suas mãos. Ayrton trabalhou com uma determinação notável e uma capacidade de improvisação admirável. A sua assustadora vontade de vencer estaria sempre algumas voltas à frente dos limites do corpo, por mais forte que ele ficasse pelas mãos de Nuno Cobra. E aí sim, começou a ser moldado o futuro tri-campeão do mundo. |