Suzuka. O Palco do 1º Título!
1988 foi o 1º ano com a McLaren, fazendo equipa com o então
bicampeão Alain Prost. Um ano no qual Senna viu adiar a sua primeira vitória em
casa, depois de desclassificado em Interlagos. Mas uma época que seguiu com
sucesso, obtendo 13 poles e 8 vitórias.
Em Suzuka, Senna estava em casa. Havia um entusiasmo construído, alimentado, uma empatia em torno de Ayrton, que não existia com mais nenhum. Senna tinha dado triunfos e notoriedade à Honda e os japoneses eram-lhe reconhecidos. Prost já achava que Senna tinha preferência dentro da equipa. A 30 de Outubro, em Suzuka, aquela que foi a sua vitória mais saborosa (a par da obtida anos mais tarde no Brasil). Senna estava na pole position. Mas na largada, o brasileiro foi traído por uma combinação do nervosismo, com um pedal de embreagem que deixou o motor morrer. Lá disparou após mais de metade do pelotão passar por ele. E na saída, viu-se no 14º lugar. Depois do susto, o impossível pela frente. Numa recuperação vertiginosa, de trás para a frente, Senna entrou no 3º lugar, quando tinham sido concluídas 16 voltas. Se vencesse, Senna seria Campeão do Mundo. Na 27ª volta chegou-se ao seu colega de equipa Alain Prost. Chegou-se e passou. Foi até ao final para vencer. A corrida, o título e criando a consagração de um novo mito. E a chuva veio. Amiga de sempre em tantas ocasiões, ali podia prejudicar. As últimas 7 voltas, são digna de mais um encontro com o sobrenatural. |
Numa entrevista anos mais tarde, Senna conta o que viu antes de se sagrar 1ª vez, campeão do mundo:
“Eu rezava, mas estava superconcentrado. Preparava-me para fazer aquela curva longa de 180 graus, quando vi a imagem de Jesus. Ele era tão grande, tão grande. Não estava no chão. Estava suspenso, com a roupa de sempre, a cor de sempre e uma luz em volta. O seu corpo inteirinho subia para o céu, alto, alto, alto, ocupando todo o espaço. Ao mesmo tempo em que tinha essa imagem incrível, eu guiava um carro de corrida. Guiava com precisão, com força, com tudo. É de enlouquecer, não é? Eu nunca tive dúvida da existência de Deus, mas hoje eu vi. Não quero mais falar!” Talvez Senna estivesse num estado psicológico de grande excitação e que com a sua concentração estivesse sujeito a ver o que queria. Talvez o spray dos carros na pista molhada, levantassem da pista a imagem que Senna na verdade, queria ver. No final da corrida, não disse muito. Ficou muito tempo dentro do cockpit a chorar. Senna comentou a Alex Dias Ribeiro, o homem que foi o seu mentor espiritual após o incidente do Mónaco, meses antes: “Deus revelou-se para mim no nível em que eu podia entender". Na conferência de imprensa Senna disse sentir que perdeu um peso enorme dos ombros. E logo a seguir, ligou a Nuno Cobra, o preparador que 4 anos antes o tinha ensinado a fazer corridas de 2 horas, a respirar, sem se cansar. Disse-lhe: “Sou Campeão. E não me cansei!”. Antes de se deitar pediu uma cassete com o vídeo da corrida para rever antes de dormir. Na manhã, os amigos mais próximos ao pequeno-almoço perguntaram-lhe como era acordar campeão. Respondeu: “Não sei. Ainda não dormi!”. |